"Em Guerra", por André Bacci
"Em Guerra", de Stephane
Brizé, abre com uma reportagem fictícia, que noticia o fechamento abrupto de
uma fábrica francesa. A situação é caótica, com os líderes sindicais e
funcionários expressando a sua fúria, e os diretores da fábrica justificando a
decisão pela "falta de competitividade" da filial. O anúncio se dá
pouco mais de dois anos após um acordo ser selado com os 1100 funcionários -
agora na iminência de serem todos demitidos em uma região que já sofria com
altas taxas de desemprego - com o objetivo de melhorar o desempenho da fábrica,
o que envolvia um aumento de cinco horas semanais na carga de trabalho e o
corte de benefícios, em troca da garantia de manter seus empregos.
Vincent Lindon é Laurent Amédéo. |
Logo em seguida, começa uma
discussão acalorada entre funcionários e patrões - os primeiros inconformados
com a injustiça brutal do acontecimento, e os últimos restritos a um tom
defensivo e condescendente, como quem dá de ombros à desgraça alheia. Não fosse
pelo sumiço das manchetes coloridas e da narração em off, mal se perceberia a
transição da reportagem para o filme de fato. A intenção de Brizé é de
aproximar o espectador ao esforço e à irritação sentida pelos trabalhadores
enquanto eles protestam ou discutem com seus patrões (e entre si); e ele o faz
por meio de um visual praticamente documental, com movimentos de câmera mais
livres e planos fechados, sem floreios estéticos - o recurso das reportagens
fictícias é retomado esporadicamente ao longo do filme.
A reunião fracassada logo dá lugar
ao início da greve, uma cena frenética de protesto e quebra-quebra. O impasse
se alonga por meses, e os trabalhadores reivindicam a oportunidade de negociar
com o CEO da multinacional à qual a fábrica pertence.
Prontos para fazerem de tudo para salvarem seus empregos. |
Aliás, essa "traição" do
próprio estilo fica mais evidente nos momentos finais, quando uma construção de
personagem súbita (que poderia muito bem ter sido feita ao longo de todo o
filme) mal prepara o espectador para um momento que destoa completamente do
resto da trama e se assemelha mais a um choque gratuito do que o destino final
do filme de fato, tentando evocar um sentimentalismo - e até um martírio - que
simplesmente não se encaixa com o resto da trama.
Apesar dessas contradições, "Em
Guerra" ainda consegue fluir bem, e, por mais que seu impacto não seja tão
forte quanto o pretendido, é um olhar elaborado e inteligente da perspectiva
dos trabalhadores, e descreve a luta contra as injustiças de uma forma não se
deixa cair em didatismo. Para quem se interessa pelo tema, é uma boa pedida.
Assista o Trailer
Sinopse
Apesar de grandes sacrifícios financeiros por parte de seus funcionários e lucros recordes no ano, a administração das Indústrias Perrin decide fechar uma de suas fábricas. Os 1.100 funcionários, liderados por seu porta-voz Laurent Amédéo, decidem lutar contra essa decisão brutal, prontos para fazerem de tudo para salvarem seus empregos.
Um filme de Stéphane Brizé
En Guerre
Estrelado por Vincent Lindon
França 2018
113 minutos
Drama
Distribuição Supo Mungam Films
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