CULTURA COM ESSÊNCIA

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"Retrato de uma Jovem em Chamas", por André Bacci


Nosso colaborador André Bacci do Cinema à Flor da Pele foi conferir o drama francês "Retrato de Uma Jovem em Chamas" (Portrait de la jeune fille en feu). Esse é o quarto longa-metragem da diretora Céline Sciamma (Tomboy), foi escolhido como o filme de abertura do Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade de 2019, que acontece de 13 a 20 de Novembro em São Paulo. Esta será a première brasileira da nova e elogiada obra de Sciamma, que está entre as mais comentadas do ano, e que recebeu os prêmios de Melhor Roteiro e a Palma Queer no Festival de Cannes. 

O filme confirma Céline Sciamma entre os realizadores mais empolgantes do mundo atualmente e conta com atuações magníficas de Noémie Merlant e Adèle Haenel, abordando temas contemporâneos em uma história de época. "Retrato de uma Jovem em Chamas" é uma das maiores histórias de amor já contadas.

Com distribuição da Supo Mungam Films, o filme tem estreia nos cinemas nacionais para o dia 9 de janeiro de 2020.



“Retrato de uma Jovem em Chamas”, de Céline Sciamma (2019), se inicia com uma sequência de telas em branco. Os créditos iniciais do filme são intercalados com uma série de riscos no tecido, cujo propósito é, inicialmente, indecifrável. É assim também que um dos longas mais aclamados do ano se constrói: avesso a quaisquer distrações ou desvios, em traços hesitantes mas precisos, de modo a esboçar lentamente uma história de amor arrebatadora.

A protagonista é Marianne (Noémie Merlant), uma pintora encarregada de fazer o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), que retornou do convento para se casar com o ex-noivo da irmã após a sua morte. A pintura, no entanto, deve ser feita em segredo, pois Héloïse se recusa a posar, inconformada com a perspectiva do casamento. Para isso, Marianne assume o papel de dama de companhia, e acompanha a jovem em suas caminhadas, observando com afinco o seu objeto de estudo.


Pouco a pouco, surge dessa dinâmica uma relação absolutamente hipnotizante, potencializada por duas performances magistrais. A fisionomia altiva e a intensidade de Haenel é perfeita para determinar a aura de mistério em torno de sua personagem, cujas camadas imploram para serem desvendadas. Merlant, por sua vez, incorpora com destreza a curiosidade e liberdade de Marianne, e o mesmo fascínio contido com que ela contempla Héloïse é evocado no espectador pela sua fisionomia expressiva - com destaque para os momentos em que ela se empenha em desenhar a jovem à luz de velas. Tanto nos diálogos ricamente construídos - a cena central em que as personagens discutem o significado por trás do mito de Orfeu e Eurídice é particularmente digna de elogios - como nos silêncios emblemáticos que permeiam o filme, os contornos das personalidades das duas mulheres são delineados com uma desenvoltura incrível, rica em subtexto e sentimento e consistentemente cativante.
   
No entanto, não é apenas em seu desenvolvimento que o filme se assemelha a uma pintura: “Retrato de uma Jovem em Chamas” é, também, incomparavelmente belo. Nos close-ups dos rostos de suas duas figuras centrais, em panoramas que destacam as cores da praia contrastando com seus vestidos vívidos, ou nos movimentos de câmera mais lentos, que evocam a hesitação do olhar e do desejo, Sciamma demonstra um controle absoluto de sua estética, criando um universo extremamente particular e imersivo. A ausência de trilha sonora é, por isso, praticamente imperceptível até os momentos - três deles - em que a música surge dentro da própria cena, cumprindo um papel fundamental para intensificar o refrão central do filme: a liberdade feminina, um tema ricamente explorado ao longo do filme.

Vencedor do prêmio de melhor roteiro em Cannes (e um dos favoritos da crítica para a Palma de Ouro), "Retrato de uma Jovem em Chamas" é uma obra simultaneamente potente e delicada, repleta de momentos brilhantes, mas também meticulosamente construída em sua totalidade, destinada a entrar para os melhores filmes do ano.


Sinopse

França, 1760. Marianne é contratada para pintar o retrato de casamento de Héloïse, uma jovem mulher que acabou de deixar o convento. Por ela ser uma noiva relutante, Marianne chega sob o disfarce de companhia, observando Héloïse de dia e a pintando secretamente à noite. Conforme as duas mulheres se aproximam, a intimidade e a atração crescem, enquanto compartilham os primeiros e últimos momentos de liberdade de Héloïse, antes do casamento iminente. O retrato de Héloïse logo se torna um ato colaborativo e o testamento do amor delas.


Ficha Técnica

Retrato de Uma Jovem Em Chamas
Um filme de Céline Sciamma
Estrelado por Noémie Merlant, Adèle Haenel, Luàna Bajrami e Valeria Golino
Portrait de la jeune fille en feu 
França  2019 
120 minutos 
Drama/Romance  
Distribuição: Supo Mungam Films 



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