CULTURA COM ESSÊNCIA

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"Honeyland", por André Bacci

Na semana da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, nosso colaborador André Bacci, assistiu a cabine de imprensa do documentário "Honeyland". Vencedor do Grande Prêmio do Júri da seção World Cinema de documentários no Festival de Sundance.
Conheça a vida modesta da apicultora Hatidze e sua belíssima relação com as abelhas.Tão doce como o mel e tão dolorida como a ferroada de uma abelha.
  

Na cena que abre o documentário "Honeyland", um dos filmes mais premiados do ano e o escolhido para representar a Macedônia no Oscar, acompanhamos de perto a apicultora Hatidze, enquanto ela se desloca habilmente pelos caminhos estreitos de um penhasco e afasta algumas pedras para revelar várias colmeias, que ela manipula com as mãos desprotegidas, sem nenhuma máscara protetora. Ela guarda alguns favos e os leva para o povoado deserto onde mora com a mãe idosa e doente; lá, ela cuida de inúmeras outras colônias de abelhas com tamanha naturalidade que é como se ela fizesse parte delas, ao som de sua própria cantoria. "Metade para mim, e metade para vocês", ela diz alegremente para as abelhas, enquanto recolhe o mel espesso que ela vende no mercado da cidade próxima.


A beleza estarrecedora e contemplativa da sequência de abertura é igualada apenas pelo brilho nos olhos de Hatidze, vindo do orgulho genuíno de alguém que reconhece a força e a importância de seu próprio trabalho. A forma como ela é retratada no filme é nada menos que heroica: confiável, obstinada, e paciente, que carrega o fardo de preservar uma tradição milenar.



O delicado equilíbrio entre Hatidze e os seus arredores é perturbado com a chegada barulhenta dos Sam, uma família extensa de turcos que decide morar e criar seu gado no povoado. A princípio inquieta com os novos vizinhos, a protagonista logo estende a sua simpatia a eles, brincando com as crianças, ouvindo o rádio junto a eles e partilhando de suas refeições. Em dado momento, ela mostra ao patriarca da família o seu cultivo de abelhas, ao que ele decide se iniciar na apicultura. Ela o alerta para tomar cuidado com a quantidade de mel que pega, de modo a manter a estabilidade das colônias e impedir que as suas abelhas ataquem as dela. No entanto, os Sam tem dívidas a pagar e uma família para alimentar, e salvar as abelhas parece ser a última de suas preocupações; as consequências disso são, previsivelmente, devastadoras. 




Uma das qualidades mais notáveis de "Honeyland" é a sua capacidade de ordenar os diversos fragmentos - filmados ao longo de três anos - de modo a tecer uma narrativa não só coesa, mas também dotada de sensibilidade e propósito, sem recorrer à narração ou às entrevistas tão comuns no gênero: aqui, os autores se colocam em segundo plano, e deixam as cenas falarem por si próprias. A fluidez do filme é tanta que é inevitável se questionar o quão passivos os diretores realmente foram na jornada de Hatidze, mas, seja lá qual for a sua influência na história, o resultado é uma parábola belíssima e melancólica sobre o trabalho, a preservação do meio ambiente, e a ganância; um conto arrepiante e imersivo; e um retrato fantástico de uma mulher igualmente fantástica.


Sinopse

Em uma vila isolada na Macedônia do Norte, Hatidze, uma mulher de 50 e poucos anos, cuida de uma colônia de abelhas. Um dia, uma família itinerante se instala ao lado, e o reino pacífico de Hatidze dá lugar a motores barulhentos, sete crianças e 150 vacas. No entanto, ela se anima com a vizinhança e passa a dividir seus conselhos sobre apicultura, sua afeição e seu conhaque especial. Porém, Hussein, o patriarca dessa família, toma uma série de decisões que podem destruir o modo de vida de Hatidze para sempre.




Assista o Trailer



Ficha Técnica

Direção: Ljubomir Stefanov / Tamara Kotevska
Roteiro: Ljubomir Stefanov, Tamara Kotevska
Fotografia: Fejmi Daut, Samir Ljuma
Montagem: Atanas Georgiev
Música: Foltin
Produtor: Atanas Georgiev
Produção: Trice Films
Classificação: 12 anos
World Sales Deckert Distribution




Agradecimentos a assessoria da  43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e ao colaborador André Bacci do Cinema à Flor da Pele.

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