"Honeyland", por André Bacci
Conheça a vida modesta da apicultora Hatidze e sua belíssima relação com as abelhas.Tão doce como o mel e tão dolorida como a ferroada de uma abelha.
Na cena que abre o documentário "Honeyland", um dos filmes
mais premiados do ano e o escolhido para representar a Macedônia no Oscar,
acompanhamos de perto a apicultora Hatidze, enquanto ela se desloca habilmente
pelos caminhos estreitos de um penhasco e afasta algumas pedras para revelar
várias colmeias, que ela manipula com as mãos desprotegidas, sem nenhuma
máscara protetora. Ela guarda alguns favos e os leva para o povoado deserto
onde mora com a mãe idosa e doente; lá, ela cuida de inúmeras outras colônias
de abelhas com tamanha naturalidade que é como se ela fizesse parte delas, ao
som de sua própria cantoria. "Metade para mim, e metade para vocês",
ela diz alegremente para as abelhas, enquanto recolhe o mel espesso que ela
vende no mercado da cidade próxima.
A beleza estarrecedora e contemplativa da sequência de abertura é igualada apenas pelo brilho nos olhos de Hatidze, vindo do orgulho genuíno de alguém que reconhece a força e a importância de seu próprio trabalho. A forma como ela é retratada no filme é nada menos que heroica: confiável, obstinada, e paciente, que carrega o fardo de preservar uma tradição milenar.
O delicado equilíbrio entre Hatidze e os seus arredores é perturbado com a chegada barulhenta dos Sam, uma família extensa de turcos que decide morar e criar seu gado no povoado. A princípio inquieta com os novos vizinhos, a protagonista logo estende a sua simpatia a eles, brincando com as crianças, ouvindo o rádio junto a eles e partilhando de suas refeições. Em dado momento, ela mostra ao patriarca da família o seu cultivo de abelhas, ao que ele decide se iniciar na apicultura. Ela o alerta para tomar cuidado com a quantidade de mel que pega, de modo a manter a estabilidade das colônias e impedir que as suas abelhas ataquem as dela. No entanto, os Sam tem dívidas a pagar e uma família para alimentar, e salvar as abelhas parece ser a última de suas preocupações; as consequências disso são, previsivelmente, devastadoras.
Uma das qualidades mais notáveis de "Honeyland" é a sua capacidade de ordenar os diversos fragmentos - filmados ao longo de três anos - de modo a tecer uma narrativa não só coesa, mas também dotada de sensibilidade e propósito, sem recorrer à narração ou às entrevistas tão comuns no gênero: aqui, os autores se colocam em segundo plano, e deixam as cenas falarem por si próprias. A fluidez do filme é tanta que é inevitável se questionar o quão passivos os diretores realmente foram na jornada de Hatidze, mas, seja lá qual for a sua influência na história, o resultado é uma parábola belíssima e melancólica sobre o trabalho, a preservação do meio ambiente, e a ganância; um conto arrepiante e imersivo; e um retrato fantástico de uma mulher igualmente fantástica.
Sinopse
Assista o Trailer
Ficha Técnica
Direção: Ljubomir Stefanov / Tamara Kotevska
Roteiro: Ljubomir Stefanov, Tamara Kotevska
Fotografia: Fejmi Daut, Samir Ljuma
Montagem: Atanas Georgiev
Música: Foltin
Produtor: Atanas Georgiev
Produção: Trice Films
Classificação: 12 anos
World Sales Deckert Distribution
Agradecimentos a assessoria da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e ao colaborador André Bacci do Cinema à Flor da Pele.
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